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Los humanos, ¿genios o idiotas del Universo?

Folha de São Paulo - 03.06.2007

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0306200701.htm (só para assinantes UOL e Folha)

Marcelo Gleiser
Conversa sobre ETs
Nós, humanos, somos os gênios ou os idiotas do Universo?
Na semana passada, escrevi sobre o romance "Contato", de Carl Sagan, que explora a possibilidade de um primeiro contato com uma civilização extraterrestre muito mais avançada do que a nossa. Desde então, venho refletindo sobre a questão da nossa inteligência dentro de uma perspectiva mais cósmica e menos antropocêntrica.Em geral, quando falamos de inteligência, nos comparamos a algum "gênio" ou "idiota" que conhecemos, ou a algum animal. Apesar de ser raro pensarmos sobre inteligência de forma mais abrangente, a reflexão sobre a possibilidade de vida extraterrestre inevitavelmente leva a isso. Afinal, somos gênios ou idiotas? Imagine que, na semana que vem, cientistas anunciem que foi descoberta vida em Marte. Nada de homenzinhos verdes, apenas organismos unicelulares feito nossos paramécios e amebas. Qual seria o impacto de uma notícia dessas? Não sei se o leitor se lembra do pronunciamento de agosto de 1997, feito pelo então presidente norte-americano Bill Clinton, sobre a possível descoberta de vida em Marte. No caso, a vida estaria num meteorito que viajou de lá até aqui e que foi encontrado enterrado sob o gelo da Antártica. Após muito debate, ficou concluído que o meteorito fora contaminado por vida terrestre (embora alguns ainda achem que era mesmo vida marciana). Mas vamos supor que a descoberta tivesse sido confirmada: existe vida primitiva em Marte. E daí? Muita coisa. A descoberta implicaria que a vida é possível em outro planeta. O fato de a vida existir num planeta próximo da Terra onde as condições são extremamente hostis confirmaria que ela é incrivelmente resistente e criativa. Conseqüentemente, se a vida existe num planeta frio e seco, com atmosfera de baixa densidade e sem oxigênio (ele compõe apenas 0,13% da atmosfera, dominada por gás carbônico), ela deve existir em muitos outros planetas. Talvez haja bilhões deles apenas na nossa galáxia. Supondo, bastante razoavelmente, que os preceitos da teoria da evolução são aplicáveis a todas as formas de vida, a possibilidade de bilhões de planetas terem algum tipo de vida tem conseqüências profundas. Obviamente, mesmo se formas de vida multicelular forem muito mais raras do que as unicelulares (foram necessários quase 2 bilhões de anos até surgirem os primeiros seres multicelulares na Terra), seres multicelulares existirão pela galáxia afora. Veja que, na Terra, foram necessários em torno de 500 milhões de anos para seres multicelulares virarem seres inteligentes, isto é, nós. Como a galáxia tem em torno de 10 bilhões de anos, a vida teve tempo de sobra para fazer a transição de unicelular a multicelular inteligente. Segundo esse ponto de vista, a galáxia deve ter muitas civilizações inteligentes. Ademais, como nossa tecnologia só começou a avançar rapidamente há uns 200 anos, somos os bebezinhos tecnológicos da galáxia. Devem existir incontáveis civilizações muito mais avançadas do que nós. Ou não... Em 60 anos de tecnologia nuclear, escapamos por pouco de conflitos com potencial de varrer a vida humana no planeta. A ameaça ainda existe. Será esse o obstáculo maior à sobrevivência de uma civilização? Será que a definição de inteligência é a capacidade de agir coletivamente para a preservação da espécie? Nesse caso, somos gênios ou idiotas? Lendo as manchetes dos jornais, a Rússia desenvolvendo novas armas nucleares, os EUA querendo criar escudos antimísseis, os iranianos querendo imitar o Paquistão e a Índia, fica difícil nos considerar gênios. Espero, de coração, que eu esteja enganado.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

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